Doação de órgãos: taxa de negativa familiar é de 56%

por Luciano Luiz dos Santos publicado 10/05/2016 10h48, última modificação 10/05/2016 10h48

Um doador de órgãos e tecidos pode beneficiar até sete pessoas. Coração, pâncreas, rim, fígado e córneas de um paciente que veio a óbito podem fazer a diferença na qualidade de vida de alguém que luta contra o tempo na fila de espera da Central de Transplante de Pernambuco (CT-PE). Contudo, hoje, o principal entrave para tornar a doação uma realidade é a negativa familiar: em 56% dos casos, as potenciais doações acabam não ocorrendo pela resistência dos parentes. Para chamar a atenção do público e fazer com que todos reflitam sobre o assunto, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) promove, a partir desta terça-feira (26/05), a Semana Estadual de Incentivo à Doação de Órgãos.

“Entre os motivos da negativa familiar, está o desconhecimento da população sobre a morte encefálica e sobre a integridade do corpo após a doação. Precisamos informar que o diagnóstico de morte encefálica segue um rígido protocolo na sua confirmação e que a família receberá o corpo do ente querido íntegro. Como a doação só ocorre com a autorização de um familiar de até segundo grau, de acordo com a legislação brasileira, precisamos difundir esse tema; tirar dúvidas, mitos e preconceitos; e saber que esse ato pode salvar muitas vidas”, afirma a coordenadora da CT-PE, Noemy Gomes. 

Durante a Semana Estadual de Incentivo à Doação de Órgãos, será realizado o Simpósio Pernambucano de Doação e Transplantes de Órgãos e Tecidos. As atividades ocorrem durante toda esta terça-feira (26/05), a partir das 8h, no auditório do Cremepe, reunindo profissionais de saúde da área de todo o Estado, além da participação do Conselho Federal de Medicina e da Central de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos do Estado de Santa Catarina. Na quinta (28/05), às 14h30, a CT-PE visita a sede da Secretaria Estadual de Educação, na Várzea, para sensibilizar os servidores. Já na manhã da sexta (29/05), um adesivaço será feito na Avenida Agamenon Magalhães, nas proximidades do HR.

DADOS – Entre 1995 e 2014, a CT-PE conseguiu tornar realidade 14.492 transplantes. Nos primeiros dez anos, de 1995 a 2004, foram 3.425 procedimentos. Já na segunda década (de 2005 a 2014), o número subiu para 11.067, um aumento de 323%. Apesar do dado animador, depois de 2012, quando houve o recorde no número de doações (1.690) da Central, os números vêm caindo: foram 1.551, em 2013; e 1.405, em 2014. “Precisamos refletir: e se fosse com você ou com algum parente, a doação de órgãos não seria um problema seu?”, indaga a coordenadora da CT-PE.

TRANSPLANTES EM 2015 – De janeiro a abril, foram realizados 367 transplantes, uma queda de 12,41% em relação ao mesmo período de 2014, quando foram efetivados 419. Mesmo assim, a CT-PE comemora o aumento nos transplantes de coração (200%), fígado (19%) e rim (11%), em relação ao mesmo período de 2014.

ESPERA – Atualmente, 1.298 pessoas estão na fila de espera por pâncreas/rim (1), coração (6), medula óssea (30), fígado (78), córnea (115) e rim (1.068). No caso da córnea, a CT-PE considera a fila zerada, pois o transplante acontece em até 30 dias da data de inscrição do paciente na fila. “Desde o ano passado, iniciamos um trabalho no Hospital de Câncer de Pernambuco para ampliar as doações do tecido ocular pelos portadores de câncer. Hoje, a unidade é a terceira no número de doações, atrás apenas do HR e do Imip”, diz Noemy Gomes. 

RANKING – De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Pernambuco encontra-se no primeiro lugar no Norte/Nordeste, entre janeiro e março de 2015, no número de transplantesde coração, rim e medula óssea.

PASSO A PASSO – O primeiro passo para o transplante deve ser dado pela pessoa que deseja ser doador, ao informar à família sobre sua intenção de doar. No caso de morte encefálica do paciente (o cérebro morre, mas o coração permanece batendo por algumas horas), os parentes devem procurar o médico responsável para expressar o desejo de doação. As equipes de captação de órgãos dos hospitais também conversam com as famílias para sensibilizar sobre a causa. Segundo a legislação de transplantes no Brasil, a doação de órgãos só pode ser feita se um familiar de até segundo grau autorizar.

A partir da assinatura do termo de autorização, a Central encaminha o órgão para um receptor compatível obedecendo a ordem da lista única do Estado. A decisão deve ser rápida, para que o transplante seja bem-sucedido. Vale salientar que o corpo do doador não fica mutilado e que a idade não determina se alguém pode ou não ser um doador.

MEDULA ÓSSEA – Além da doação de órgãos após a morte, em vida, é possível ser doador de medula óssea. Para isso, basta fazer o cadastro no Hemope, onde é feita a coleta de uma pequena amostra de sangue para os testes de compatibilidade. Caso haja compatibilidade com alguém de qualquer lugar do Brasil ou do mundo, novos exames confirmatórios são realizados antes que seja feita a doação.

DOAÇÃO INTERVIVO – No caso do rim, além do doador diagnosticado com morte encefálica, a doação também pode ser feita por um doador vivo, como previsto na legislação brasileira. Nesse caso, é necessário ter um grau de parentesco com o receptor de até quarto grau – primo legítimo.

“Também é necessário fazer um teste de compatibilidade. Se for compatível, o doador passa por uma série de exames para que essa doação não traga nenhum malefício a sua saúde”, avisa Noemy Gomes. Essa é a única modalidade de transplante que o órgão é direcionado especificamente para uma pessoa, que, mesmo assim, deve estar inscrita na fila da Central de Transplantes.

Fonte: http://www.pe.gov.br/b/11896

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